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Argus muda-se para terra e transforma-se em museu
2021/05/31

A Câmara de Ílhavo e a Pascoal & Filhos assinaram um protocolo de doação, ao município, do lugre bacalhoeiro Argus, sendo que a empresa está disponível para colaborar «na busca de parcerias particulares ou institucionais que possam contribuir para financiar os encargos com a reparação do navio e adaptação a embarcação-museu, a instalar no Jardim Oudinot, na Gafanha da Nazaré, «cidade bacalhoeira».

O investimento necessário atinge os 4 milhões de euros e a Câmara assume a responsabilidade de conseguir um apoio financeiro no âmbito do Quadro Comunitário Portugal 2030, que «valoriza a intervenção na recuperação do património».

A embarcação irá «integrar, em seco, o espaço público do Jardim Oudinot, enquadrado com o Navio-Museu Santo André, também ele representativo da história da pesca do bacalhau, sendo transformado num equipamento museológico, visitável, que promova a identidade histórica e as potencialidades turísticas do município».

O protocolo marca o início da reabilitação do que o município considera um «ícone da história portuguesa da Pesca do Bacalhau, com o objetivo de a transformar num equipamento museológico».

O presidente da Câmara, Fernando Caçoilo, justifica o plano. «Por razões técnicas que sustentam as obras de recuperação do navio e a impossibilidade de voltar a navegar face ao seu estado de degradação, pela componente financeira avaliada a relação custo/benefício e o diferencial de investimento para uma utópica recuperação que permitisse a sua navegabilidade, pela ausência de dimensão e de escala que permitisse um retorno do investimento, agravado pelos encargos consequentes com a manutenção.

INFO Câmara de Ílhavo
«O ARGUS
O lugre, em estado muito avançado de degradação e atualmente parqueada no Cais dos Bacalhoeiros, na Gafanha da Nazaré, constitui um valioso ativo do património cultural ilhavense que a autarquia tem o maior interesse em gerir, cuidar e partilhar, enquanto agente promotor da cultura, da história e da vocação marítima dos verdadeiros heróis do mar, que foram os homens de Ílhavo que dedicaram as suas vidas à faina da pesca do bacalhau à linha, nos dóris, essas minúsculas embarcações de trabalho individual, com que, no dia a dia e partindo dos lugres bacalhoeiros, enfrentavam as gélidas águas dos mares da Terra Nova e Gronelândia na captura do “fiel amigo”;
De entre os navios que, construídos, armados e/ou tripulados por gerações e gerações de ilhavenses, se fizeram ao mar para pescar o fiel amigo nos mares da Terra Nova e da Gronelândia, o mítico veleiro “Argus” é um “irmão mais novo” (e uma versão tecnicamente mais desenvolvida) dos icónicos “Creoula” e “Santa Maria Manuela”, expoentes máximos da arquitetura naval que concebeu e construiu da frota bacalhoeira portuguesa à vela, a chamada “Frota Branca”, por ser branca a cor que distinguia as embarcações portuguesas envolvidas nesta tão nobre, como épica e trágica atividade profissional;
O “Argus”, construído na Holanda, em 1939 e que foi, na sua época, o navio almirante daquela Frota Branca, converteu-se na principal personagem de um clássico da literatura marítima mundial, “A Campanha do Argus” (no original “ The Quest for Schooner Argus “) de Alan Villiers, um oficial da armada australiana, que dedicou uma parte significativa da sua vida a imortalizar os mais relevantes patrimónios náuticos que cruzaram os mares;
Com efeito, em 1950 e a convite de Pedro Teotónio Pereira, embaixador português em Washington, Alain Villiers, à época um conceituado articulista da National Geografic Magazine, embarcou no veleiro “Argus”, comandado pelo capitão ilhavense Adolfo Simões Paião Júnior, e, durante cinco meses, viu e registou em livro a dureza da "faina maior", a pesca do bacalhau à linha por "homens de ferro, em navios de madeira", a última grande atividade económica que fazia uso da navegação à vela para viagens transoceânicas, livro esse que constitui ainda hoje um dos grandes clássicos da literatura marítima mundial;
Importa registar e sublinhar a curiosa circunstância de, durante a sua vida ativa ao serviço da faina maior da pesca do bacalhau, o “Argus” ter sido sempre comandado por ilustres lobos do mar ilhavenses, a saber:
Capitão Aníbal Pereira Ramalheira (1939);
Capitão Adolfo Simões Paião Júnior (1939/1940 e1944/1957);
Capitão João Pereira Ramalheira (Vitorino) (1941/1943);
Capitão Francisco da Silva Paião (Almeida) (1958/1968) e
Capitão José Luís Oliveira (Codim) (1969/1970 última viagem).
A projeção internacional do referido livro foi tal que teve tradução em mais de uma dezena de línguas.
Dessa viagem única que fez, de Lisboa aos bancos de pesca da Terra Nova, Villiers compôs um tríptico que correu mundo: para além do referido livro (com edição original em inglês, em 1951, e tradução portuguesa meses depois), fez também um filme e um magnífico álbum de fotografias, todos muito conhecidos e respeitados pela vasta comunidade de estudiosos dos assuntos do mar;
Depois de percorrer um atribulado, longo, fascinante e, também por isso, a todos os títulos notável, caminho de pesquisa e negociação, a PASCOAL & FILHOS, resgatou o “Argus” (atualmente denominado Polynésia II) das águas cálidas do Caribe, onde, em Aruba, acabou os seus dias como embarcação dedicada a pequenos cruzeiros turísticos;



A PASCOAL & FILHOS, SA
A PASCOAL & FILHOS é uma empresa ilhavense de referência no setor alimentar, fundada em 1937 e que começou a sua atividade exercendo a pesca do bacalhau e sua comercialização em seco, tendo sempre acompanhado com particular atenção e soluções criativas as dinâmicas da sua atividade principal e as exigências do mercado de consumo.
Depositária de muitos saberes, fiel herdeira de um rico legado construído sobre as águas frias dos mares da Terra Nova, e consciente da importância desse legado histórico e cultural, sobre o qual construiu uma história de reconhecido sucesso, a Pascoal & Filhos alargou a sua área de negócio ao Turismo cultural de vocação marítima adquirindo e dinamizando o antigo navio bacalhoeiro Santa Maria Manuela.
Mais tarde tornou-se dona e legítima possuidora do referido lugre “ARGUS”, um ex-navio, com o número oficial IMO 5023564, atualmente denominado POLYNÉSIA II, cujo registo foi cancelado com efeitos a 29 de junho de 2009 e que adquiriu, em 22 de janeiro de 2009, à sociedade Windjammer Barefoot Cruises, com sede em Miami Beach, Flórida, nos Estados Unidos da América.
A referida embarcação foi desalfandegada, em 25 de setembro de 2009, na Alfandega de Aveiro no âmbito de um processo de desalfandegamento / importação, cuja tramitação aduaneira foi realizada a coberto do DU (Documento Único) com a referência nº 285/2009, tendo como destinatário a referida Pascoal & Filhos, SA.
A política de mecenato cultural da Empresa concede prioridade às realizações culturais na área da faina e tradição marítimas, pelo que a empresa, no âmbito dessa política de mecenato artístico e cultural, está disponível para promover a cedência da referida embarcação, no estado em que se encontra, à Câmara Municipal de Ílhavo para que esta possa promover a sua recuperação/reabilitação para os fins que entender mais adequados à prossecução dos seus objetivos de promover a história da pesca do bacalhau à linha nos mares da Terra Nova e honrar o exemplo de vida de todos os seus munícipes que se dedicaram a essa tão nobre como trágica e esgotante atividade;

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