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Solos em risco
2014/04/16

Uma investigação de Susana Loureiro, do Departamento de Biologia e do Centro de Estudos do Ambiente e do Mar Universidade de Aveiro (UA) concluiu que «os cocktails de pesticidas usados na agricultura para combaterem pragas estão a provocar efeitos nefastos nos organismos que regeneram o ecossistema terrestre e, por isso, a porem em causa a saúde dos solos nacionais».

Segundo uma equipa de biólogos da UA, coordenada pela investigadora que analisou os efeitos de misturas de pesticidas utilizadas em larga escala, não só no país como por toda a Europa, em organismos que, não sendo o alvo a abater, «sofrem danos por ação dos químicos. Sem eles, e por consequência sem o papel crucial que desempenham na decomposição da matéria orgânica e na redistribuição dos nutrientes, os solos agrícolas não se conseguem manter saudáveis».

O comunicado refere que «os investigadores apontam o dedo a uma legislção que apenas regula a utilização individual de cada químico ignorando a mistura de pesticidas, uma prática normal no setor agrícola e que potencia o efeito tóxico dos compostos utilizados».

Susana Loureiro diz que «já testámos vários tipos de pesticidas aplicados amplamente em todo o país e na Europa e verificámos que eles produzem efeitos muito mais nefastos do que seria à partida previsível».

A coordenadora da equipa diz que «organismos como bichos-de-conta, minhocas e outros invertebrados benéficos para o solo sofrem danos ao nível do sistema nervoso central e devido a stress oxidativo, acabando por morrerem ao fim de algumas horas de exposição a misturas de moluscicidas, vulgarmente chamados de “remédio dos caracóis”».

«Não seria um efeito previsto, tendo em conta que são organismos não alvo dos moluscicidas», segundo a equipa que estuda há vários anos o efeito dos químicos usados na agricultura. A investigação tem igualmente verificado que há vários compostos químicos que «induzem efeitos que se prolongam ao longo de várias gerações desses organismos, podendo dar origem ao colapso de populações».

«Nos solos agrícolas há décadas que se utilizam cocktails químicos perigosos e imprevisíveis sobre os quais a legislação em vigor em Portugal e na Europa nada diz», afirma Susana Loureiro. «Numa prática agrícola comum temos aplicações de inseticidas, fungicidas, moluscicidas ou herbicidas temporalmente simultâneos ou desfasados no tempo, que podem induzir aditividade de efeitos ou mesmo potenciação de toxicidade. Nestes casos a legislação em vigor é omissa», sublinha.

Para além disso, na Europa a diretiva dos solos continua «na gaveta» e «Portugal parece ainda não ter a perceção das potencialidades científicas que tem gerado ao longo dos anos nesta área dos solos, nomeadamente na componente da avaliação ecotoxicológica». E ainda, explica Susana Loureiro, “tendo em conta que diferentes tipos de solos, com diferentes características, fazem variar a componente biodisponível dos químicos presentes, e consequentemente a sua toxicidade e perigosidade, torna-se crucial que cada país ajuste e transponha, de uma forma adequada, a política nacional para a qualidade de solos”.

Para além disso, «é urgente a criação de um plano de monitorização ambiental para manter a qualidade dos solos e dos serviços que esses solos nos proporcionam quer na Europa quer em Portugal».

Organismos benéficos afetados pelos compostos químicos «Os invertebrados como minhocas ou bichos da conta contribuem para a reciclagem de nutrientes, decompondo a matéria orgânica e incrementado igualmente a diversidade de fungos e bactérias necessárias aos processos de decomposição», explica a bióloga Susana Loureiro. Por outras palavras, os organismos que sofrem efeitos colaterais da mistura dos pesticidas, «promovem a função de reciclagem de nutrientes, quer diretamente, pelo fracionamento vegetal, quer indiretamente, através do estímulo das comunidades microbianas» que decompõe a matéria orgânica.

Utilizando como exemplo as minhocas, fortemente afetadas pela ação dos químicos, Susana Loureiro aponta que «estas aumentam o arejamento dos solos e promovem uma relação simbiótica entre fungos e raízes de plantas o que permite o aumento da absorção de nutrientes por parte da planta».

Por isso, «os pesticidas ao afetarem estes organismos, todo o ecossistema edáfico será afetado na sua estrutura e função, diminuindo consequentemente a qualidade do solo e, por isso, a respectiva produtividade».

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