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Laranja mecânica
2006-1-20

Laranja mecânica

As eleições presidenciais de domingo têm uma importância que não é a correspondente à importância que tem sido dada à figura do eleito Presidente da República em Portugal. Se ganhar um dos candidatos da esquerda reforçará o Governo socialista, mais se for Manuel Alegre ou Mário Soares. Se ganhar Cavaco Silva será um trampolim para o PSD tentar conquistar o poder do Governo.

O PSD não consegue disfarçar. Querem que Cavaco Silva ganhe para conseguir um assalto mais fácil ao poder. Não se consegue ver que o PSD só quer ganhar a Presidência da República. E, nisto da política, mesmo que o PS governe bem, o PSD vai querer governar. Simples.

O investimento na campanha de Cavaco impressiona. Camiões de material, equipas de seguranças. Nada comparado com Mário Soares, designadamente.

Cavaco é distante mas é o que atrai mais gente. A máquina laranja é eficaz na mobilização. Alimentada pela motivação de, depois de chegar a Belém dar um salto até S. Bento, leva milhares aos sítios onde Cavaco passa.

Mário Soares tem, por vezes, ataques de fúria, mas é mais próximo. Contudo, pelas sondagens não tem ganho nada. Alegre, que poucos conhecem qual o seu valor, ganhou apoiantes por ter conseguido conquistar reacções de deslumbramento, não se sabe bem por qual razão. Garcia Pereira e Francisco Louçã terão os seus eleitores tradicionais, e de Jerónimo de Sousa falta confirmar se subirá como tem dito.

Cavaco está confiante que ganhará à primeira. Se lhe perguntarem não o confirmará mas disse isso de várias maneiras no comício de Aveiro. Aliás, foi o sítio onde conseguiu juntar mais pessoas. Mas o homem não deixa que se aproximem dele. Em Aveiro, por exemplo, pensa que levando um foto conseguirá um autógrafo do candidato do PSD? Não. Um segurança não deixará. Quer dar um abraço, um beijinho a Cavaco? O mesmo ou outro segurança não deixará.

E os voluntários do PSD. São, no fundo, militantes e funcionários transformados em voluntários à força. Trazem alegremente cartões pendurados ao pescoço onde se lê «Voluntário». Passa para quem não os conhece e quem os conhece sabe que estão disfarçados.

João Peixinho

Notícia disponível em http://www.oln.pt