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DIÁRIO DE MARIA 2004-1-10 TUBO DE ENSAIO - A VIDA DE MARIA EM CONSTRUÇÃO
Voltando ao ano novo, deixem que partilhe convosco essa minha noite tão agraciada pela pureza que só os afectos puros podem proporcionar. Para não me pôr agora a falar de poder criativo e das suas respectivas ferramentas, digo-vos que naquele belíssimo último dia do velho ano, por volta das sete da tarde, quando todos se preparavam para festejar de azul, champagne e passas, aqui a Maria seguia sorrindo para casa, feliz porque não tinha assumido compromisso nenhum - era livre! E o mundo era todo meu. Cheguei a casa e queria voar. Como não sou dotada de asas, não me queixei e deitei-me, procurando as asas que nascem em parte nenhuma dentro de nós quando conseguimos por fim alinhar a mente, o coração e o corpo. Estava já a começar o meu voo razante ao oceano, quando a Raquel bate à porta. Como resistir aquele sorriso maroto e aos seus profundos olhos cor de esperança?... "Anda" - dizia ela com voz de gozo arrastado, " faz um saco, tenho o jantar feito para ti e para a Rosa". E eu, que não estava a contar com a simplicidade que se fazia acompanhar o convite da minha amada amiga, sorri ouvindo de novo a célebre frase: "quem é parecido junta-se". Fiz o saco, estendi o coração ao longo de todo o meu corpo e claro, fui. Nem o amante muito desejado poderia prever que o aguardava um cenário de sonho. A lareira não crepitava somente, eu vos digo, ela cantava baixinho. Os olhos da Rosa tinham aquele brilho de quem saiu vitorioso do Abismo, e a mesa era demasiado régia para que vos possa descrever. E entre risos, brindes e amena cavaqueira a Raquel ultimava os preparativos de tão soberba reunião. Para saudar comigo o novo ciclo e para meu regozijo, o meu amor veio ter comigo. Sem duvidar, sem conhecer a Raquel ou a Rosa, nem mesmo a morada da casa da minha amiga, que apesar de tantas curvinhas e embrenhada na Ílhavo profunda não foi capaz de baralhar o amado do meu coração, que lá chegou à primeira. E o que é que uma mulher que não queria nada pode dizer a tudo isto? A meia-noite chegou, e com ela a realização de um sonho esquecido. Pratiquei Maituna sem saber. Como não vou explicar de mão beijada o que é, dou-vos uma pista: A Ilha, do Aldous Huxley, um dos clássicos obrigatórios e um livro maravilhoso sobre uma ilha habitada por gente muito evoluída, vivendo à margem da civilização dita moderna, façam um favor a vós mesmos, se gostarem de ler. Amanhã apor-vos-ei a par da continuação da historia da minha tia. Agora já não se quer matar... agora... quer matar o meu tio!!! Ah! humanidade oscilante entre loucos a puxar para baixo e sábios a fazer força para sitio nenhum... Maria
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