Estávamos no pico do sol. E Setembro já cá canta, mas ainda assim, e meu cérebro torrava, e a fome própria da hora, desta vez não apareceu.
De maneira que aproveitei e fiz-me à estrada - sempre se ganham uns minutinhos de descanso, e um passeio pelo parque é melhor que o jantar aquecido da noite anterior com direito a passagem pelo lava-loiça e restantes afazeres...
Estou eu a ponderar nisto, quando vejo o Zé Leite - chiiiii!!!!! há anos que eu não via o homem!! se bem me lembro nessa última vez portou-se que nem um bardino, um verdadeiro bandido, por assim dizer, mas nada disso me ocorreu quando lhe pus a vista em cima - pelo contrário, foi com alegria que lhe fiz ali mesmo uma festa digna da quantidade de anos por pôr em dia.
Conversa pra aqui, conversa pra ali - o dito estava na mesma... e eu nem sei se isso é bom ou mau, quando um pobre nos pede esmola. O Zé vira a cara, eu dou-lhe umas moeditas. o Sr. das fotografias lança-me piropos e faz-se de parvo.
O Zé despede-se. Eu não ouço nem um nem outro - não percebo o que se passa. Sorrio tipo robot, para não pensarem que estou tantan e faço-me de novo à estrada. Então percebi: era o mendigo. Tinha os olhos brilhantes. Queria apenas dizer "obrigado, menina". Algo me tocou bem dentro do coração, e eu vi que a moeda que lhe tinha dado tinha sido vazia.
Eu nem me apercebera se o homem era novo ou velho, na verdade nem para ele olhei. Mas ele havia olhado para mim. Parecia dizer que em matéria de pobreza não haviam tantas diferenças assim...
Maria
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